A minha avó materna fazia muitas vezes roupa velha, mas não apenas de bacalhau. Aliás, raras vezes de bacalhau - na família da minha mãe o sucesso do bacalhau está abaixo da média nacional -; fazia de tudo quanto eram restos. Um resto de frango assado com batatas? zás, mistura e junta ovo. Um resto de peixe? zás, mistura e junta ovo. Um resto de costeletas? zás, mistura e junta ovo. Era este o espírito. Roupa velha era sinónimo de restos. A minha avó, de resto, daria lições a qualquer Vítor Gaspar deste mundo. Aproveitava tudo! Remendava, cerzia, reutilizava embalagens, papel, pano, atilhos, garrafas, caixas. Lavava tudo e conservava as coisas com o maior dos cuidados. Não acumulava tralha, dava uso às coisas e só comprava novo quando tivesse mesmo que ser.
Eu herdei isto dela. De forma mais relaxada porque os tempos são outros, ao contrário dela, não tenho de educar filhos em tempos de guerra e ela, ao contrário de mim, não estava exposta a um constante assédio comercial e consumista.
Por isso guardo sobras de tudo quanto faço e procuro aproveitá-las, nem que seja a longo prazo. A minha cabeça está sempre cheia de afazeres e as minhas agendas cheias de projectos. Nunca chego a esvaziar porque há sempre novas sobras.
O último projecto levado a cabo, e ainda em curso, é do aproveitamento de pedaços de feltro, muitos já recortados, de botões e de linhas. Queria tê-lo terminado ainda antes do início da Primavera. Na minha cabeça sonhadora, imaginava-me de vestido florido e de cesta na mão, a vender por aí a minha "roupa velha primaveril". A realidade é bem diferente: a primavera já tem, oficialmente, uma semanas, embora ande um bocado instável, nada de vestidos coloridos e nada de cestas. Faz-se o que se pode, com muito prazer.
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